Fazendo um resgate na memória, percebi que não
tenho muitas lembranças de vivências com pessoas com algum tipo de deficiência
na minha vida. Até me recordo de estudar na mesma escola de uma moça com
deficiência auditiva e que se comunicava em Libras, no ensino fundamental anos
finais, mas não tenho recordações do grau de proximidade, por esse motivo
acredito que tivemos poucos momentos juntas.
Na Unicamp conheci uma
amiga chamada Priscila e dela sim tenho grandes recordações que guardo com
muito carinho.
Priscila nasceu com
uma deficiência motora nas pernas, causada por falta de oxigênio na hora do
parto. Quando tinha seis meses sua mãe percebeu que algo não estava bem, pois
não sendo mãe de primeira viagem, tinha a percepção de que com esta idade ela
já deveria estar se sentando sozinha. Fez vários exames e a luta começou, com
duas cirurgias e muita fisioterapia. Com quatro anos começou a andar e vários
avanços foram conseguidos através da dedicação de sua mãe e apoio da Associação
de Reabilitação Infantil Limeirense.
Sempre estudou em
escola pública, sua mãe até tentou uma vez procurar por uma escola participar,
mas esta não possuía uma estrutura física que permitisse que ela se locomovesse
sozinha. Nesta escola sempre se sentiu acolhida, inclusive nas aulas de
educação física, na qual participava de todas as atividades e cujo professor se
recorda com muito carinho. Por uma única vez, quando seus amigos não
estavam respeitando seu lugar na sala, por conta da carteira na altura ideal, a
direção fez interferência para garantir o seu direito.
Priscila me contou
que enfrenta a deficiência de uma maneira muito positiva, o mesmo problema que
ocasionou a sua deficiência motora poderia ter causado uma deficiência
intelectual.
Formou-se em
Licenciatura em Matemática na Unicamp, lugar que não estava preparado
fisicamente para a inclusão, muita coisa melhorou, mas ainda há muito que se
fazer. O prédio da matemática é cheio de escadas, atualmente possui elevador, nem todas as aulas são neste prédio e o
acesso aos outros ambientes é longo e pouco preparado.
Apesar
de tudo isso Pri sempre andava com sua mochila nas costas e sorriso no rosto.
Ao se formar
entregou vários currículos em escolas particulares, nunca foi chamada para uma
entrevista, acredita que isso se deva ao fato de escrever no currículo que é
deficiente. Iniciou seu trabalho na escola pública, onde mais uma vez foi
acolhida. Ficou pouco tempo, pois foi chamada em um concurso para trabalhar na
área administrativa na própria Unicamp, havia
feito um curso de administração no Centro Paula Souza em Limeira, cidade onde
mora.
Na faculdade nos
conhecemos, cursávamos disciplina em outro prédio, o que nos permitiu maior
contato durante o trajeto. Transformou-se em uma amiga, amizade que tenho muito
carinho. Pessoa muito positiva, dedicada e que luta muito por seus objetivos.